Dominando a Arte do Possível: o Processo de Resiliência Familiar em Famílias de Crianças com Transtorno do Espectro Autista

Nome: STEPHANYE MEIRELLES DE OLIVEIRA VALENTE
Tipo: Dissertação de mestrado acadêmico
Data de publicação: 27/01/2023
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
CÉLIA REGINA RANGEL NASCIMENTO Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
CÉLIA REGINA RANGEL NASCIMENTO Orientador
CLAUDIA BROETTO ROSSETTI Examinador Interno
FABIANA PINHEIRO RAMOS Suplente Interno
MARIA ANGELA MATTAR YUNES Examinador Externo

Resumo: O fenômeno da resiliência individual tornou-se objeto de pesquisa nos recentes estudos em
Psicologia, principalmente após o movimento da Psicologia Positiva. Entende-se a resiliência
como um conjunto de processos que envolvem: adversidades e desafios, fatores protetivos,
superação e crescimento a partir destes. Apesar da abordagem inicial da resiliência como
característica intrínseca a alguns indivíduos, nas pesquisas, posteriormente o fenômeno pôde
ser entendido como um conjunto de processos dinâmicos. Nesse sentido, o surgimento de novas
pesquisas que visam entender o fenômeno da resiliência em grupos, como na família, propõe
metodologias de pesquisas sistêmicas e contextualistas. Especificamente em pesquisas sobre
processos de resiliência familiar, propõe-se a avaliação dos processos internos e externos à
família. Estes se referem às forças que a própria família desenvolve para a superação e
crescimento a partir das adversidades, bem como aos recursos das redes de apoio e os contextos
em que estão inseridas. As famílias de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) são
consideradas como grupos que enfrentam diversos desafios, adversidades, bem como estresse
e sobrecarga. Quais são os pontos fortes e recursos que essas famílias acessam? Esta pesquisa
propôs, como objetivo geral, a investigação dos processos de resiliência familiar em famílias
de crianças com Transtorno do Espectro Autista. Esta pesquisa foi realizada através dos
conceitos dos processos-chave da resiliência familiar, propostos por Froma Walsh, a saber: o
sistema de crenças, os padrões organizacionais e de comunicação na família. A partir desses
processos-chave foram desenvolvidos os objetivos específicos desta pesquisa. O primeiro
objetivo específico foi conhecer as compreensões e vivências da família diante da mudança
contextual trazida pela chegada do indivíduo com TEA, identificando: crenças sobre o
diagnóstico, sobre o desenvolvimento da criança e sobre o papel da família para a criança com
TEA. O segundo pretendeu identificar possíveis mudanças na organização do microssistema
familiar, além de processos de comunicação com a criança e entre os membros da família e a

solução de problemas nesse ambiente na vivência com a criança com TEA. O terceiro propôs-
se a descrever as redes de apoio disponíveis às famílias que constituem parte de seu padrão

organizacional, compondo o mesossistema da família na relação com a criança: em seu aspecto
estrutural (apoio formal e informal) e seu aspecto funcional (o tipo de apoio ofertado). A Teoria
Bioecológica do Desenvolvimento Humano (TBDH), de Urie Bronfenbrenner, com seu modelo
de pesquisa Processo-Pessoa-Contexto-Tempo (PPCT), foi utilizada como base teórica para a
análise dos processos. Com a finalidade de alcançar o objetivo proposto, a pesquisa utilizou
uma metodologia qualitativa, baseando-se nas narrativas dos participantes. Assim, foram
escolhidos como instrumento de coleta de dados: o roteiro de entrevista semiestruturado, o
ecomapa e a técnica do gibi. Com cada família participante, foram realizados até quatro
momentos de entrevista, sendo elas: entrevista inicial com o casal parental (roteiro
semiestruturado); aplicação do ecomapa com o casal parental; entrevistas individuais (com cada
pai e mãe). Toda coleta de dados foi realizada em ambiente digital, em decorrência da pandemia
de Covid-19. Os instrumentos de coleta de dados foram, desta forma, adaptados para a aplicação
online. Participaram desta pesquisa quatro famílias, com diferentes tempos de diagnóstico de
seus filhos, compostas por um casal parental e ao menos uma criança com diagnóstico de TEA.
O procedimento de análise de dados foi realizado a partir da análise de conteúdo de todos os

instrumentos, que resultou na divisão de dois eixos temáticos. O primeiro eixo temático emergiu
da análise das entrevistas iniciais com casal parental e da técnica do gibi. Os resultados
apresentaram os processos internos ao microssistema familiar, demonstrando o seu sistema de
crenças, bem como seus padrões de organização e processos de comunicação dos subsistemas
(conjugal e parental). O segundo eixo temático, resultante da análise do ecomapa, explorou, de
forma específica, as relações do microssistema familiar com outros contextos. Nestes,
identificou-se pessoas, grupos e instituições que foram consideradas pelas famílias sua rede de
apoio. A análise dos resultados dos dois eixos temáticos, realizada individualmente e de forma
integrada, apresentou as superações e crescimento das famílias. Estas foram identificadas nas
mudanças em crenças e compreensões da família que poderiam ser consideradas fatores de risco
para a execução de práticas parentais e nos processos de organização familiar, que
demonstraram padrões de flexibilidade e estabilidade, bem como a conexão dos membros da
família, que superaram mudanças extremas em rotinas e papéis. Para que estes processos
acontecessem de forma efetiva, as famílias precisaram desenvolver padrões de comunicação
claros e efetivos, tanto entre os pais, quanto dos pais com as crianças. Todos esses
enfrentamentos realizados pelo microssistema familiar, bem como seu crescimento,
dependeram também do apoio em rede. Esse apoio foi identificado por representantes do apoio
formal e informal, nas mais diversas formas (apoio de informação, apoio emocional, apoio
afetivo, apoio material e apoio de interações prazerosas). Destacou-se, ao final, que muitos dos
desafios e adversidades que as famílias enfrentam não são advindos das características da
criança, mas são dependentes de múltiplos fatores sociais, como o desconhecimento sobre o
transtorno, a falta de preparo profissional e as dificuldades na inclusão. Tornaram-se também
evidentes, que nos processos de resiliência que as famílias de crianças com TEA vivenciam, há
desenvolvimento e crescimento não somente da criança, mas de todos os membros da unidade
familiar, principalmente dos seus pais.

Palavras-Chave: resiliência; resiliência familiar, TEA, teoria bioecológica do desenvolvimento
humano.

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