A atuação do psicanalista na psicanálise em extensão

Resumo: A presente investigação se dirige à ação do psicanalista junto a equipes de saúde mental e parte de nossa atuação em um Programa de Extensão Universitária. Para sustentar o discurso que lhe diz respeito, o psicanalista deve sustentar o lugar do desejo. O desejo do analista, uma noção instituída por Lacan é, portanto, o que faz vigorar a ética da psicanálise. Tendo essa formulação surgido no contexto da análise em intensão, na clínica propriamente dita, podemos estendê-la à psicanálise em extensão? A pergunta que se coloca é se é possível sustentar o desejo do analista e, portanto, a ética da psicanálise, em instituições nas quais há outros discursos como referência principal.
O termo extensão é coincidentemente a maneira pela qual Lacan, na “Proposição de 09 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola”, designa o ato de tornar a psicanálise presente no mundo, para além da atividade da clínica individual propriamente dita. A participação da psicanálise na cultura concerne às responsabilidades do analista. Ambas as vertentes do trabalho, tanto quando se dirige a um sujeito, quanto quando se dirige à cultura, são sustentadas pelo desejo do analista, outra noção lacaniana. Grosso modo, o desejo do analista implica em fazer vigorar um lugar vazio no campo da linguagem, no qual se possibilita a emergência do sujeito do inconsciente. Na clínica, esse lugar de escuta é autorizado por aquele que fala, através da transferência. Rinaldi (2002) nos lembra que a noção de desejo do analista foi introduzida por Lacan como uma resposta aos psicanalistas chamados pós-freudianos, que conduziam sua clínica a partir das noções de resistência e contratransferência. Para Lacan, o inconsciente insiste e não resiste e, caso surja na análise uma resistência, essa se situa do lado do analista. A relação da psicanálise com o coletivo nos dias atuais pode ser evidenciada pela presença do psicanalista nas instituições, públicas ou privadas, sobretudo as de saúde. Podemos ler esse movimento não como algo novo ou excêntrico, mas como possibilitado desde as origens da psicanálise que, com Freud, surge como suplementar ao saber médico, no contexto hospitalar. Do ponto de vista da psicanálise, o que constitui tanto o sujeito quanto a vida coletiva com suas instituições é a estrutura da linguagem e isso faz com que os dois campos (sujeito e coletivo) sejam indissociáveis.
Cabe, entretanto, investigar se há necessidade de repensarmos a ética da psicanálise quando esta se empresta a atividades da vida coletiva.
Da experiência em extensão surgem as questões que auxiliarão essa reflexão.

Data de início: 01/08/2018
Prazo (meses): 12

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